Espera, resignado, o dia 13 daquele mês porque, em tal data, usança avoenga lhe faculta sondar o futuro, interrogando a providência. É a experiência tradicional de Santa Luzia. No dia 12 ao anoitecer expõe ao relento, em linha, seis pedrinhas de sal, que representam, em ordem sucessiva da esquerda para a direita, os seis meses vindouros, de janeiro a junho. Ao alvorecer de 13 observa-as: se estão intactas, pressagiam a seca; se a primeira apenas se deliu, transmudada em aljôfar límpido, é certa a chuva em janeiro; se a segunda, em fevereiro; se a maioria ou todas, é inevitável o inverno benfazejo. Esta experiência é belíssima.
CUNHA, E. Os sertões. São Paulo: Editora Três, 1984.
No experimento descrito, a relação com a paisagem e com a religiosidade permite que o sertanejo seja
A) afeito à devoção ao aceitar destinos sacralizados.
B) acostumado à pobreza ao admitir acasos naturais.
C) habituado ao solo ao conhecer terrenos cultiváveis.
D) íntimo à Caatinga ao interpretar condições ambientais.
E) próximo à vegetação ao identificar espécies arbustivas.
Solução
Esses saberes populares de previsão do tempo revelam como o sertanejo se apropria, por meio da experiência, das condições ambientais ao seu redor. Essa apropriação é imbuída de simbolismo, refletindo a rica combinação de conhecimento prático e elementos culturais, incluindo a religiosidade, que é uma característica marcante da cultura sertaneja. A realização do experimento na véspera de Santa Luzia evidencia essa dimensão simbólica, sugerindo que a Santa concede sua benção ao ritual e à tentativa de prever o futuro climático.
Alternativa D