Houve uma rede de televisão brasileira que conseguiu, com ousadia e exclusividade, uma entrevista com o presidente da Líbia, logo após o bombardeio de sua casa pela aviação estadunidense, em 1986. Foi constrangedor para Kadafi e para os telespectadores ouvir as perguntas: “O que o senhor sentiu quando percebeu o bombardeio? O que o senhor sentiu quando viu sua família ameaçada? O que o senhor achou desse ato dos inimigos?”. Nenhuma pergunta sobre o significado do atentado na política e na geopolítica do Oriente Próximo; nenhuma indagação que permitisse furar o bloqueio das informações a que as agências noticiosas estadunidenses submetem a Líbia.
CHAUÍ, M. Simulacro e poder: uma análise da mídia. In: A ideologia da competência.
Belo Horizonte: Autêntica, 2016.
O argumento levantado no texto é uma crítica ao papel da imprensa brasileira por
A) problematizar a narrativa dos acontecimentos históricos.
B) dissimular a parcialidade dos conteúdos midiáticos.
C) defender o partidarismo dos relatos jornalísticos.
D) julgar a visão autoritária dos discursos oficiais.
E) explorar a lógica bipolar dos eventos globais.
Solução
Muammar Kadafi, na época presidente da Líbia, era amplamente visto como um ditador pelas organizações internacionais e enfrentava forte oposição dos Estados Unidos. No entanto, a entrevista que lhe foi concedida desviou a atenção dos graves conflitos em que o país estava envolvido, com perguntas que não abordavam diretamente essas questões. A filósofa critica veementemente a condução da entrevista, alegando que a imprensa exibiu uma clara parcialidade ao desviar o foco de Kadafi de sua postura opositora aos EUA, prejudicando a imparcialidade e a profundidade da discussão.
Alternativa B