O farrista
Quando o almirante Cabral
Pôs as patas no Brasil
O anjo da guarda dos índios
Estava passeando em Paris.
Quando ele voltou de viagem
O holandês já está aqui.
O anjo respira alegre:
“Não faz mal, isto é boa gente,
Vou arejar outra vez.”
O anjo transpôs a barra,
Diz adeus a Pernambuco,
Faz barulho, vuco-vuco,
Tal e qual o zepelim
Mas deu um vento no anjo,
Ele perdeu a memória…
E não voltou nunca mais.
MENDES. M. História do Brasil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. 1992
A obra de Murilo Mendes situa-se na fase inicial do Modernismo, cujas propostas estéticas transparecem, no poema, por um eu lírico que
A) configura um ideal de nacionalidade pela integração regional.
B) remonta ao colonialismo assente sob um viés iconoclasta.
C) repercute as manifestações do sincretismo religioso.
D) descreve a gênese da formação do povo brasileiro.
E) promove inovações no repertório linguístico.
Solução
A obra de Murilo Mendes, inserida na fase heroica do modernismo brasileiro, desmonta a visão idealizada do período colonial, adotando uma postura crítica e irreverente. Ao utilizar expressões coloquiais como “vuco-vuco”, “zepelim”, “deu com o vento no anjo” e “pôs as patas”, o poema rompe com a tradição ufanista e solene, característica de outros momentos literários, e reflete o caráter iconoclasta e demolidor da primeira geração modernista. Essa linguagem popular destaca a dessacralização do passado colonial, evidenciando uma crítica cultural através da desconstrução da visão tradicional.
Alternativa B