Lembro, a propósito, uma cerimônia religiosa a que assisti na noite de Santo Antônio de 1975 quando presente a uma festa em honra do padroeiro. Ia a coisa assim bonita e simples, até que, recitadas as cinco dezenas de ave-marias e os seus padre-nossos, chegou a hora do remate com o canto da salve-rainha. O capelão começou a entoar nesse instante hino à Virgem, em latim “Salve Regina, mater misericordiae”, e, o que eu estranhei, foi seguido de pronto sem qualquer hesitação pelos presentes. Depois veio o espantoso para mim: a reza, também entoada, de toda a extensa ladainha de Nossa Senhora igualmente em latim. Eu olhava e não acabava de crer: aqueles caboclos que eu via mourejando de serventes nas obras do bairro estavam agora ali acaipirando lindamente a poesia medieval do responso.
BOSI, A. Dialética da colonização. São Paulo: Cia. das Letras, 1992.
O estranhamento do autor diante da cerimônia relaciona-se ao encontro de temporalidades que
A) questionam ritos católicos.
B) evidenciam práticas ecumênicas.
C) elitizam manifestações populares.
D) valorizam conhecimentos escolares.
E) revelam permanências culturais.
Solução
O estranhamento do autor diante da cerimônia religiosa está relacionado ao encontro de temporalidades que revelam permanências culturais. O autor observa que, apesar do contexto contemporâneo e da aparência dos participantes, a cerimônia mantém práticas tradicionais, como a entoação de orações e hinos em latim, uma língua ligada à tradição medieval da Igreja. Esse fenômeno demonstra como elementos culturais antigos continuam presentes e ativos na vida das pessoas, mesmo em contextos modernos. Portanto, o estranhamento do autor evidencia como práticas culturais antigas persistem e se manifestam em novas situações, revelando a continuidade e a permanência dessas tradições culturais.
Alternativa E