Em casa, Hideo ainda podia seguir fiel ao imperador japonês e às tradições que trouxera no navio que aportara em Santos. […] Por isso Hideo exigia que, aos domingos, todos estivessem juntos durante o almoço. Ele se sentava à cabeceira da mesa; à direita ficava Hanashiro, que era o primeiro filho, e Hitoshi, o segundo, e à esquerda, Haruo, depois Hiroshi, que era o mais novo. […] A esposa, que também era mãe, e as filhas, que também eram irmãs, aguardavam de pé ao redor da mesa […]. Haruo reclamava, não se cansava de reclamar: que se sentassem também as mulheres à mesa, que era um absurdo aquele costume. Quando se casasse, se sentariam à mesa a esposa e o marido, um em frente ao outro, porque não era o homem melhor que a mulher para ser o primeiro […]. Elas seguiam de pé, a mãe um pouco cansada dos protestos do filho, pois o momento do almoço era sagrado, não era hora de levantar bandeiras inúteis […].
NAKASATO, O. Nihonjin. São Paulo: Benvirá, 2011 (fragmento).
Referindo-se a práticas culturais de origem nipônica, o narrador registra as reações que elas provocam na família e mostra um contexto em que
A) a obediência ao imperador leva ao prestígio pessoal.
B) as novas gerações abandonam seus antigos hábitos.
C) a refeição é o que determina a agregação familiar.
D) os conflitos de gênero tendem a ser neutralizados.
E) o lugar à mesa metaforiza uma estrutura de poder.
Solução
Na cultura japonesa, a disposição dos lugares à mesa reflete uma hierarquia social, com o pai ocupando o lugar de maior destaque, seguido dos filhos, do mais velho ao mais novo. As mulheres da família, como a mãe e as filhas, permanecem em pé ao redor da mesa. Essa distribuição simboliza a estrutura de poder predominante, onde os homens detêm o protagonismo. Assim, o trecho da obra mencionada utiliza essa prática cultural para metaforizar o poder masculino dentro da sociedade.
Alternativa E