Camelôs
Abençoado seja o camelô dos brinquedos de tostão:
O que vende balõezinhos de cor
O macaquinho que trepa no coqueiro
O cachorrinho que bate com o rabo
Os homenzinhos que jogam boxe
A perereca verde que de repente dá um pulo que
engraçado
E as canetinhas-tinteiro que jamais escreverão coisa
alguma.
Alegria das calçadas
Uns falam pelos cotovelos:
– “O cavalheiro chega em casa e diz: Meu filho, vai
buscar um
pedaço de banana para eu acender o charuto.
Naturalmente o menino pensará: Papai está malu…”
Outros, coitados, têm a língua atada.
Todos porém sabem mexer nos cordéis como o tino
ingênuo de
demiurgos de inutilidades.
E ensinam no tumulto das ruas os mitos heroicos da
meninice…
E dão aos homens que passam preocupados ou tristes
uma lição de infância.
BANDEIRA, M. Estrela da vida inteira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2007
Uma das diretrizes do Modernismo foi a percepção de elementos do cotidiano como matéria de inspiração tendência e alcança expressividade porque:
A) realiza um inventário dos elementos lúdicos tradicionais da criança brasileira.
B) promova uma reflexão sobre a realidade de pobreza dos centros urbanos.
C) traduz em linguagem lírica o mosaico de elementos de significação corriqueira
D) introduz a interlocução como mecanismo de construção de uma poética nova.
E) constata a condição melancólica dos homens distantes da simplicidade infantil.
Solução
O poema retrata a realidade dos camelôs, com brinquedos baratos nas calçadas, envolvendo crianças e pais. A partir dessa cena corriqueira, o poema revela um sentido lírico, mostrando como os “mitos heroicos da meninice” proporcionam uma breve fuga da vida melancólica para os adultos.
Alternativa C