Quanto às mulheres de vida alegre, detestava-as; tinha gasto muito dinheiro, precisava casar, mas casar com uma menina ingênua e pobre, porque é nas classes pobres que se encontra mais vergonha e menos bandalheira. Ora, Maria do Carmo parecia-lhe uma criatura simples, sem essa tendência fatal das mulheres modernas para o adultério, uma menina que até chorava na aula simplesmente por não ter respondido a uma pergunta do professor! Uma rapariga assim era um caso esporádico, uma verdadeira exceção no meio de uma sociedade roída por quanto vício há no mundo. Ia concluir o curso, e, quando voltasse ao Ceará, pensaria seriamente no caso. A Maria do Carmo estava mesmo a calhar: pobrezinha, mas inocente…
CAMINHA, A. A normalista. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 16 maio 2016.
Alinhado às concepções do Naturalismo, o fragmento do romance de Adolfo Caminha, de 1893, identifica e destaca nos personagens um(a)
A) compleição moral condicionada ao poder aquisitivo.
B) temperamento inconstante incompatível com a vida conjugal.
C) formação intelectual escassa relacionada a desvios de conduta.
D) laço de dependência ao projeto de reeducação de inspiração positivista.
E) sujeição a modelos representados por estratificações sociais e de gênero.
Solução
No fragmento, o protagonista demonstra uma visão preconceituosa e estereotipada, associando a virtude feminina à pobreza e à ingenuidade. A personagem Maria do Carmo é vista como uma exceção em uma sociedade “corrompida”, o que revela a sujeição a modelos sociais e de gênero, típicos da época do Naturalismo. Essa visão reflete as divisões sociais e de gênero que influenciam o comportamento e as expectativas em relação às mulheres, especialmente no que se refere à pureza e ao papel dentro do casamento.
Alternativa E