Minha mãe achava estudo a coisa mais fina do mundo.
Não é.
A coisa mais fina do mundo é o sentimento.
Aquele dia de noite, o pai fazendo serão,
ela falou comigo:
“Coitado, até essa hora no serviço pesado.”
Arrumou pão e café, deixou tacho no fogo com água quente.
Não me falou em amor.
Essa palavra de luxo.
PRADO, A. Poesia reunida. São Paulo: Siciliano, 1991.
Um dos procedimentos consagrados pelo Modernismo foi a percepção de um lirismo presente nas cenas e fatos do cotidiano. No poema de Adélia Prado, o eu lírico resgata a poesia desses elementos a partir do(a)
A) reflexão irônica sobre a importância atribuída aos estudos por sua mãe.
B) sentimentalismo, oposto à visão pragmática que reconhecia na mãe.
C) olhar comovido sobre seu pai, submetido ao trabalho pesado.
D) reconhecimento do amor num gesto de aparente banalidade.
E) enfoque nas relações afetivas abafadas pela vida conjugal.
Solução
O poema de Adélia Prado expressa um lirismo delicado ao revelar o amor não declarado explicitamente, mas presente em gestos simples e cotidianos. O eu lírico reconhece o amor no cuidado da mãe com o pai, sem a necessidade de usar palavras para nomeá-lo, enfatizando que o sentimento verdadeiro está nas ações, e não em palavras “de luxo”.
Alternativa D