Conseguindo, porém, escapar à vigilância dos interessados, e depois de curtir uma noite, a mais escura de sua vida, numa espécie de jaula com grades de ferro, Amaro, que só temia regressar à “fazenda”, voltar ao seio da escravidão, estremeceu diante de um rio muito largo e muito calmo, onde havia barcos vogando em todos os sentidos, à vela, outros deitando fumaça, e lá cima, beirando a água, um morro alto, em ponta, varando as nuvens, como ele nunca tinha visto…
[…] todo o conjunto da paisagem comunicava-lhe uma sensação tão forte de liberdade e vida, que até lhe vinha vontade de chorar, mas chorar francamente, abertamente, na presença dos outros, como se estivesse enlouquecendo… Aquele magnífico cenário gravara-se-lhe na retina para toda a existência; nunca mais o havia de esquecer, oh! Nunca mais! Ele, o escravo, “o negro fugido”, sentia-se verdadeiramente homem, igual aos outros homens, feliz de o ser, grande como a natureza, em toda a pujança viril da sua mocidade, e tinha pena, muita pena dos que ficavam na “fazenda” trabalhando, sem ganhar dinheiro, desde a madrugadinha té… sabe Deus!
CAMINHA, A. Bom Crioulo. São Paulo: Martin Claret, 2008.
A situação descrita no fragmento aproxima-o dos padrões estéticos do Naturalismo em função da
A) fragilidade emocional atribuída ao indivíduo oprimido.
B) influência da paisagem sobre a capacidade de resiliência.
C) impossibilidade de superação dos traumas da escravidão.
D) correlação de causalidade entre força física e origem étnica.
E) condição moral do indivíduo vinculada aos papéis de gênero.
Solução
No fragmento, a paisagem descrita exerce uma forte influência emocional sobre o personagem Amaro, gerando nele uma sensação de liberdade e vida que contrasta com sua condição de escravo. Essa valorização da natureza e seu impacto direto nas emoções e na percepção do personagem é um dos traços do Naturalismo, em que o ambiente externo e a realidade física moldam e influenciam o comportamento humano.
Alternativa B