O RETIRANTE ENCONTRA DOIS HOMENS CARREGANDO UM DEFUNTO NUMA REDE, AOS GRITOS DE: “Ó IRMÃOS DAS ALMAS! IRMÃOS DAS ALMAS! NÃO FUI EU QUE MATEI NÃO”
— A quem estais carregando,
Irmãos das almas,
Embrulhado nessa rede?
Dizei que eu saiba.
— A um defunto de nada,
Irmão das almas,
Que há muitas horas viaja
À sua morada.
— E sabeis quem era ele,
Irmãos das almas,
Sabeis como ele se chama
Ou se chamava?
— Severino Lavrador,
Irmão das almas,
Severino Lavrador,
Mas já não lavra.
MELO NETO, J. C. Morte e vida Severina e outros poemas para vozes. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1994 (fragmento).
O personagem teatral pode ser construído tanto por meio de uma tradição oral quanto escrita. A interlocução entre oralidade regional e tradição religiosa, que serve de inspiração para autores brasileiros, parte do teatro português. Dessa forma, a partir do texto lido, identificam-se personagens que
A) se comportam como caricaturas religiosas do teatro regional.
B) apresentam diferentes características físicas e psicológicas.
C) incorporam elementos da tradição local em um contexto teatral.
D) estão construídos por meio de ações limitadas a um momento histórico.
E) fazem parte de uma cultura local que restringe a dimensão estética.
Solução
No fragmento de Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto, os personagens são construídos a partir de uma forte ligação com a oralidade regional e a tradição religiosa, características comuns no contexto do teatro brasileiro com influências do teatro português. O diálogo entre o retirante e os homens que carregam o defunto incorpora elementos da cultura local, como a religiosidade e o modo de vida do sertão, que enriquecem a peça teatral. Esses personagens são representações de uma realidade regional, integrando elementos simbólicos e culturais do Nordeste brasileiro.
Alternativa C