O rio que fazia uma volta atrás de nossa casa era a imagem
de um vidro mole que fazia uma volta atrás de casa.
Passou um homem depois e disse: Essa volta que o rio faz
por trás de sua casa se chama enseada.
Não era mais a imagem de uma cobra de vidro que fazia
uma volta atrás da casa.
Era uma enseada.
Acho que o nome empobreceu a imagem.
BARROS, M. O livro das ignorãças. Rio de Janeiro: Record, 2001.
Manoel de Barros desenvolve uma poética singular, marcada por “narrativas alegóricas”, que transparecem nas imagens construídas ao longo do texto. No poema, essa característica aparece representada pelo uso do recurso de
A) resgate de uma imagem da infância, com a cobra de vidro.
B) apropriação do universo poético pelo olhar objetivo.
C) transfiguração do rio em um vidro mole e cobra de vidro.
D) rejeição da imagem de vidro e de cobra no imaginário poético.
E) recorte de elementos como a casa e o rio no subconsciente.
Solução
No poema de Manoel de Barros, a singularidade da sua poética é evidenciada pela transfiguração do rio em imagens poéticas, como um “vidro mole” e uma “cobra de vidro”, que são desfeitas quando o homem introduz o termo técnico “enseada”, o que empobrece a riqueza imagética anterior.
Alternativa C