Uma ouriça
Se o de longe esboça lhe chegar perto,
se fecha (convexo integral de esfera),
se eriça (bélica e multiespinhenta):
e, esfera e espinho, se ouriça à espera.
Mas não passiva (como ouriço na loca);
nem só defensiva (como jamais o ouriço),
do agressivo capaz de bote, de salto
(não do salto para trás, como o gato);
daquele capaz de salto para o assalto.
Se o de longe lhe chega em (de longe),
de esfera aos espinhos, ela se desouriça.
Reconverte: o metal hermético e armado
na carne de antes (côncava e propícia),
e as molas felinas (para o assalto),
nas molas em espiral (para o abraço).
MELO NETO, J. C. A educação pela pedra. Rio de Janeiro. Nova Fronteira, 1997.
Com apuro formal, o poema tece um conjunto semântico que metaforiza a atitude feminina de
A) tenacidade transformada em brandura.
B) obstinação traduzida em isolamento.
C) inércia provocada pelo desejo platônico.
D) irreverência cultivada de forma cautelosa.
E) desconfiança consumada pela intolerância.
Solução
Com uma estrutura formal cuidadosa, o poema constrói uma metáfora sobre a transformação da atitude feminina de firmeza para suavidade. Inicialmente, a mulher é retratada com “tenacidade”, como evidenciam os verbos “fecha”, “eriça”, e “ouriça”, demonstrando resistência e proteção. No entanto, a segunda estrofe marca uma mudança, onde ela “se desouriça”, “se reconverte” e se abre “para o abraço”, simbolizando uma postura mais suave e receptiva. Assim, o poema destaca a transição do comportamento feminino, passando de uma atitude defensiva para uma de acolhimento.
Alternativa A