O corrupião
Escaveirado corrupião idiota,
Olha a atmosfera livre, o amplo éter belo,
E a alga criptógama e a úsnea e o cogumelo,
Que do fundo do chão todo o ano brota!
Mas a ânsia de alto voar, de à antiga rota
Voar, não tens mais! E pois, preto e amarelo,
Pões-te a assobiar, bruto, sem cerebelo
A gargalhada da última derrota!
A gaiola aboliu tua vontade.
Tu nunca mais verás a liberdade!…
Ah! Tu somente ainda és igual a mim.
Continua a comer teu milho alpiste.
Foi este mundo que me fez tão triste,
Foi a gaiola que te pôs assim!
ANJOS, A. Eu e outras poesias. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 30 out. 2021.
Nesse soneto, a imagem e o comportamento do pássaro são utilizados pelo eu lírico para metaforizar o
A) sofrimento provocado pela solidão.
B) instinto de revolta perante as injustiças.
C) contraste entre natureza e civilização.
D) declínio relacionado ao envelhecimento.
E) gesto de resignação ante as privações diárias.
Solução
No soneto, o pássaro preso na gaiola representa a perda da liberdade e a conformidade forçada com a situação, metaforizando o estado de resignação do eu lírico em relação às adversidades da vida.
Alternativa E