Naquela manhã de céu limpo e ar leve, devido à chuva torrencial da noite anterior, sai a caminhar com o sol ainda escondido para tomar tenência dos primeiros movimentos da vida na roça. Num demorou nem um tiquinho e o cheiro intenso do café passado por Dona Linda me invadiu as narinas e fez a fome se acordar daquela rema letárgica derivada da longa noite de sono. Levei as mãos até a água que corria pela bica feita de bambu e o contato gelado foi de arrepiar. Mas fui em frente e levei as mãos em concha até o rosto. Com o impacto, recuei e me faltou o fôlego por alguns instantes, mas o despertar foi imediato. Já aceso, entrei na cozinha na buscação de derrubar a fome e me acercar do aconchego do calor do fogão à lenha. Foi quando dei reparo da figura esguia e discreta de uma senhora acompanhada de um garoto aparentando uns cinco anos de idade já aboletada na ponta da mesa em proseio íntimo com a dona da casa. Depois de um vigoroso “Bom dia!”, de um vaporoso aperto de mãos nas apresentações de praxe, fiquei sabendo que Dona Flor de Maio levava o filho Adão para tratamento das feridas que pipocavam por seu corpo, provocando pequenas pústulas de bordas avermelhadas.
GUIÃO, M. Disponível em: www.revistaecologico.com.br. Acesso em: 10 mar. 2014 (adaptado).
A variedade linguística da narrativa é adequada à descrição dos fatos. Por isso, a escolha de determinadas palavras e expressões usadas no texto está a serviço da
A) localização dos eventos de fala no tempo ficcional.
B) composição da verossimilhança do ambiente retratado.
C) restrição do papel do narrador à observação das cenas relatadas.
D) construção mística das personagens femininas pelo autor do texto.
E) caracterização das preferências linguísticas da personagem masculina.
Solução
A utilização de vocábulos interioranos no texto de M. Guião, como “tenência”, “roça” e “buscação”, confere autenticidade ao ambiente narrado, aproximando-o do contexto rural. Esses termos, que se afastam da norma culta, ajudam a construir a verossimilhança do espaço retratado, refletindo a linguagem típica do campo. Essa escolha linguística cria uma conexão entre o narrador e o cenário interiorano, reforçando o caráter genuíno da narrativa e a composição de um ambiente fiel à realidade descrita.
Alternativa B