As alegres meninas que passam na rua, com suas pastas escolares, às vezes com seus namorados. As alegres meninas que estão sempre rindo, comentando o besouro que entrou na classe e pousou no vestido da professora; essas meninas; essas coisas sem importância. O uniforme as despersonaliza, mas o riso de cada uma as diferencia. Riem alto, riem musical, riem desafinado, riem sem motivo; riem. Hoje de manhã estavam sérias, era como se nunca mais voltassem a rir e falar coisas sem importância. Faltava uma delas. O jornal dera notícia do crime. O corpo da menina encontrado naquelas condições, em lugar ermo. A selvageria de um tempo que não deixa mais rir. As alegres meninas, agora sérias, tornaram-se adultas de uma hora para outra; essas mulheres.
ANDRADE, C. D. Essas meninas. Contos plausíveis. Rio de Janeiro: José Olympio, 1985.
No texto, há recorrência do emprego do artigo “as” e do pronome “essas”. No último parágrafo, esse recurso linguístico contribui para
A) intensificar a ideia do súbito amadurecimento.
B) indicar a falta de identidade típica da adolescência.
C) organizar a sequência temporal dos fatos narrados.
D) complementar a descrição do acontecimento trágico.
E) expressar a banalidade dos assuntos tratados na escola.
Solução
No último parágrafo, a repetição dos artigos e pronomes, como “as” e “essas”, tem o efeito de reforçar a ideia do súbito amadurecimento das meninas, que, a partir de um acontecimento trágico, perderam a leveza e a alegria típicas da infância e adolescência. O texto sugere que elas se tornaram mulheres de uma hora para outra, subitamente conscientes da crueldade do mundo ao redor.
Alternativa A