Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.
A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir todas as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.
COLASANTI, M. Eu sei, mas não devia. Rio de Janeiro: Rocco, 1996.
A progressão é garantida nos textos por determinados recursos linguísticos, e pela conexão entre esses recursos e as ideias que eles expressam. Na crônica, a
continuidade textual é construída, predominantemente, por meio
A) do emprego de vocabulário rebuscado, possibilitando a elegância do raciocínio.
B) da repetição de estruturas, garantindo o paralelismo sintático e de ideias.
C) da apresentação de argumentos lógicos, constituindo blocos textuais independentes.
D) da ordenação de orações justapostas, dispondo as informações de modo paralelo.
E) da estruturação de frases ambíguas, construindo efeitos de sentido opostos.
Solução
A continuidade textual na crônica é construída predominantemente por meio da repetição de estruturas, o que garante o paralelismo sintático e de ideias. Esse recurso aparece claramente nas frases repetitivas que começam com “A gente se acostuma” e “E, porque”, criando um efeito de progressão que reforça a ideia central de como as pessoas se habituam a situações que não deveriam ser normais, mas acabam aceitando passivamente. Isso fortalece a coerência e a unidade do texto, mantendo o foco no tema principal.
Alternativa B